Abre aspas...

Conversas e citações o mais perto da realidade possivel...conforme a minha cabeça consiga reter, excertos de livros e algumas histórias

segunda-feira, maio 28

Excertos V

“Ninguém sabia porque é que a Luli Gigante ia assim carregada quase sempre com livros de um lado para o outro. Levava-os forrados com papel de seda, vermelho e turquesa, e às vezes também levava uma pasta com fotografias de actores coladas. E quando o Miguelito lhe perguntou aonde é que ela ia todas as manhãs, quando ele a via nesse Inverno, carregada de livros, ela respondeu-lhe que a lado nenhum, mas que gostava de pensar que era estudante e que ia à universidade, e que por isso é que tinhas comprado aquele impermeável cor de cereja, porque lhe pareceu de estudante, e queria que toda a gente a visse com os livros. Dava uma volta muito longa, sempre a parecer que ia subir para um autocarro ou que uma colega estava quase a apanhá-la num carro. Sabia o nome da colega imaginária, Marta, e até o número da matrícula do carro, um R-5 branco que não era da Marta, mas sim do pai dela.”

“_ Não gosto daquele Rubirosa. E acho que ela me engana. Não vai para a cama com ele, mas engana-me, não me diz tudo o que sente, não me diz tudo.
_ Não podes pedir isso a ninguém. Pediste que te enganassem porque pediste que te contassem tudo. Se o fazes, estás a obrigar essa pessoa a mentir-te.”

“(…) Quando ouviu a pancada contra o rebordo metálico do balcão já tinha a mão do Rubirosa diante dele e o vidro rachado da garrafa de genebra, aquele gargalo partido, precisamente na boa do estômago, a roçar-lhe a camisa branca. (…)
_ Sai daqui ou mato-te, saco de merda _ o Rubirosa falava sem quase abrir a boca.
O Miguelito olhou para o empregado, que continuava ao fundo do bar. Os olhos do Rubirosa. E então ela moveu-se.
_ Deixa-o _ a mão da Luli Gigante depositou-se docemente sobre a do Rubirosa, molhando-se de genebra, e a pressão do vidro cedeu um pouco. Uma mancha vermelha, um círculo minúsculo de sangue apareceu na camisa do Miguelito. A Luli olhou-o nos olhos. _ Vai-te embora.
«Mais que o hálito do Rafi, mais que aquela espécie de sorriso de louco com que o anão Martinez ficara e mais do que o olhar do Rubirosa, doeu-me a mão dela na mão dele. Senti que não era a primeira vez que se tocavam e já não soube quem enganava quem. E também senti que aquela era a forma dela fincar no fundo do meu estômago aquele bocado de vidro ou outro ainda mais afiado. Fazer-me duvidar do passado e sobretudo fazer-me ver o futuro com aquele gesto, os seus dedos de menina sobre as veias daquela mão. Já nada valia nada. (...)»”
Livro O caminho dos ingleses, Antonio Soler
Observação: Para melhor compreenderam este ultimo excerto, a Luli é namorada do Miguelito. O Rubirosa anda atrás da Luli e o Rafi e o Matinez são os seus companheiros. Eles descobriram que o Miguelito enganava a Luli e contaram-lhe. O excerto refere-se quando o Miguelito chega ao bar, depois de acabar com a outra, e decidido a contar tudo a Luli, mas no entanto ela acabou, nesse momento, por saber pelos outros. A ultima parte é o Miguelito a falar.
Alguma duvida que vos impeça de comentar digam por favor.

sexta-feira, maio 18

Conversas longas

Um supermercado, uma caixa de supermercado, a rapariga da caixa do supermecado e o cliente seguinte: uma senhora ao telefone.

Rapariga da caixa: Boa tarde!

A senhora faz um pequeno aceno com a cabeça e continua a falar, enquando a rapariga lhe arruma as compras e recebe o dinheiro ajudando-a depois a pegar nas compras.

Senhora: Muito obrigada_ ainda com o telefone no ouvido e vai-se embora.

Passado, aproximadamente, 20 minutos...

Rapariga da caixa: Obrigada, boa tarde!_ para o cliente que acabou de atender e dirige-se ao proximo_ Ah, olá boa tarde!
Senhora do telefone sorriu: Esqueci-me de umas coisas... _ falando baixo e ainda com o telefone no ouvido.

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quarta-feira, maio 2

Homens Invisiveis

“Quis escrever um livro sobre os homens invisíveis que encontramos na rua. É uma ideia com mais de uma década mas não sabia como materializá-la. Queria uma personagem que respeitasse integralmente o outro e a quem os outros se entregassem completamente nus. Encontrei o psicanalista. Aproximei-me de alguns psicanalistas – eles continuam a ser os últimos românticos. Acreditam que podem entrar na alma e devolver-lhe uma certa harmonia, limpando-a dos pesadelos do seu próprio percurso.”
Lídia Jorge, 60 anos, escritora
Íntimo da revista Única de 24 de Mar de 2007
por Micael Pereira