Abre aspas...

Conversas e citações o mais perto da realidade possivel...conforme a minha cabeça consiga reter, excertos de livros e algumas histórias

quinta-feira, janeiro 18

Homens às compras...

Um supermercado, um corredor dos cafés, um homem às compras. Não encontrando o que procura o homem pega no telemóvel.

_ Tou, querida… Olha não consigo encontrar o arroz doce… Hã?! Não sei, não encontro…

No corredor aparece um empregado do supermercado.

Homem_ Olha espera aí que vou perguntar aqui ao senhor… Desculpe_ dirigindo-se ao empregado_ pode me dizer onde está o arroz doce?
Empregado_ Claro, está ao pé das gelatinas e pudins.
Homem olhando em volta_ Gelatinas e pudins…
Empregado_ Se quiser venha comigo que eu vou para esse corredor.
Homem_ Ah muito obrigado! _ pegando no telemóvel_ querida não desligues que eu vou atrás do senhor.




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quinta-feira, janeiro 11

Companhia preferenciais

“Compro bilhete em segunda classe. O agente da companhia de navegação, a Comanav, insiste em que eu pague um preço mais alto para ter uma classe mais digna. Recuso: comparado com as condições em que tenho andado a viajar, não há necessidade nenhuma de luxos desnecessários. A segunda classe é já uma maravilha. Sinto-me num cruzeiro. Com o bónus da companhia. Em vez de reformados ocidentais, estou rodeado de nómadas tuaregues, pastores do Sahel, comerciantes nigerianos, gendarmes do Mali, famílias com muitas crianças.”

Viajante da revista Unica de 1 de Dez de 2006
por Gonçalo Cadilhe


Nota: Este post vem no seguimento do anterior Culturas. O transporte utilizado neste é um barco que vai em direcção a Tombuctu pelo rio Níger.

segunda-feira, janeiro 8

Comportamentos

Umas escadas de entrada para um prédio, um cinzeiro de rua e a porta está aberta. No interior do edifício é proibido fumar.

Do prédio saem dois homens, um na casa dos 50 (mais perto dos 60) e outro mais novo, talvez com 30 e poucos. Ambos acendem um cigarro (cada um com o seu isqueiro), trocam algumas palavras e o mais velho volta a entrar. O outro continua a falar e consegue-se ver o fumo a sair pela porta (provavelmente de um bafo) o que indica que o mais velho está na entrada.
Entretanto o que continua na rua afasta-se, descendo uns degraus, e sai um rapaz novo, com uns 18 anos, de cigarro na mão. Começa a apalpar-se, percebe-se que está a procura do isqueiro. O outro homem cospe para o chão e não há sinal do mais velho. O rapaz, não encontrando o isqueiro, resolve pedir lume ao outro e depois do cigarro aceso instala-se perto do cinzeiro. Assim ficam os dois, ligados somente pelo vício, o rapaz sempre a utilizar o cinzeiro e o outro atirando a cinza para o chão.
Finalmente o homem dá um ultimo bafo, pegando o cigarro só com a ponta dos dedos, e atira-o para o chão, entrando de seguida no edifício. Fica só o rapaz a olhar para o cigarro do outro no chão, depois descontrai-se, dá umas voltas na escada, acaba o cigarro, apaga-o no cinzeiro e entra calmamente no prédio.

terça-feira, janeiro 2

Outros excertos

“(…) Agora que o mês de Setembro tinha começado e estávamos a guardar as combinações de tecido de Verão, a Avó tinha começado a usar o seu aquecedor outra vez. Isso não quer dizer que o tempo estivesse necessariamente frio; nós mudamos a espessura da nossa roupa pelo calendário, não pela verdadeira temperatura exterior, e a Avó usava o aquecimento da mesma maneira.”

“(…) Nunca tinha compreendido como as coisas andavam tão relacionadas umas com as outras. (…) Nós, os seres humanos, somos apenas uma parte de uma coisa muito mais vasta. Quando caminhamos por aí, podemos pisar um besouro ou simplesmente causar uma mudança no ar de maneira que uma mosca acabe num sítio onde nunca devia ter ido parar de outro modo. E se nós pensarmos no mesmo exemplo, mas connosco no papel do insecto, e o grande universo no papel que acabámos de desempenhar, fica perfeitamente claro que somos afectados todos os dias por forças sobre as quais não temos mais controle do que o pobre besouro tem sobre o nosso pé gigantesco quando lhe cai em cima. O que podemos fazer? Devemos usar todos os métodos que pudermos para compreender o movimento do universo em volta de nós, e calcular o tempo para as nossa acções a fim de que não lutemos contra as correntes, mas nos movamos com elas.”

“Oitocentas gueixas trabalhavam em Gion quando lá cheguei pela primeira vez. Agora o número é menor que sessenta, e com apenas uma mão-cheia de aprendizas, e diminui ainda mais a cada dia – porque é claro que o correr da mudança nunca abranda, mesmo que nos convencemos a nós próprios de que o fará.”




Nota: Todos os excertos são do livro Memórias de uma gueixa de Arthur Golden. Só para melhor compreenderem, a história passa-se no Japão em meados dos anos 30 e este ultimo excerto é uma comparação com o nosso presente.